segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Efeitos do exercício físico e da atividade física na depressão e ansiedade em indivíduos idosos

Introdução
Compreende-se por envelhecimento o fenômeno
biopsicossocial que atinge o homem e sua existência na
sociedade, manifestando-se em todos os domínios da vida.
Atualmente esse fenômeno abrange um amplo campo de
pesquisas e estudos, pois o envelhecimento tem, sobretudo,
uma dimensão existencial que se reveste de características
biopsíquicas e socioculturais, por isso, sua análise deve
ser realizada com base na dimensão biológica, sociológica
e psicológica (38, 39).
Atualmente o Brasil conta com 8% de sua população
tendo mais de 60 anos, ainda é um país jovem, mas mudanças
no comportamento sociocultural já se fazem presentes.
Desta forma, epidemiologistas estimam que, em meados do
ano 2025 ocuparemos a sexta posição mundial em número
de idosos e a primeira posição da América Latina (37).
Além disso, podemos observar que, com o processo de
envelhecimento, ocorre uma diminuição gradual na
qualidade de vida, que pode ser compreendida como um
conjunto harmonioso de satisfações que o indivíduo obtém
no seu cotidiano, levando-se em consideração tanto os
aspectos físicos quanto o psicológico e o social (13, 36).
Ou seja, a qualidade de vida está diretamente relacionada
com o grau de satisfação que o indivíduo possui diante da
vida em seus vários aspectos (19).
Dentro desse conceito, é válido ressaltar que existe um
aumento da incidência de distúrbios psicológicos nos dias
atuais, sobretudo na velhice, embora esses distúrbios possam
ocorrer em qualquer idade. Vários fatores tentam justificar
este aumento, entre eles a tecnologia, a modernidade e o
progresso médico-científico, que concedem ao homem uma
maior possibilidade de obter a longevidade (38, 39). No
entanto, os fatores que proporcionam qualidade de vida
ficam esquecidos ou subjugados a um plano secundário.
Dessa forma, é importante salientar que, sintomas
depressivos podem aparecer em decorrência de diversas
patologias, em vigência do uso de vários medicamentos,
ou após o início de outras doenças psiquiátricas, tais como:
transtorno obsessivo-compulsivo, síndrome do pânico,
entre outras. Esta observação levou a uma das classificações
dicotômicas das depressões: primária vs secundária, essa
última ocorrendo após outras doenças. A depressão primária
caracteriza-se pela alteração essencial do humor, que pode
ser deprimido ou irritável, ou pela perda de prazer pelas
atividades em geral, além de outras alterações no sono, no
apetite e na psicomotricidade (8, 12).
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico da
Associação Psiquiátrica Americana em sua quarta edição
(DSM-IV) (1) a depressão pode ser classificada em:
Transtorno depressivo maior: é o tipo de depressão
mais grave, sendo a que apresenta o maior risco para o
suicídio, trata-se de uma depressão endógena que ocorre
devido a menor atividade das monoaminas cerebrais (15).
Distimia: corresponde a um quadro depressivo leve,
intermitente, de início insidioso, em que o indivíduo sofre
oscilações de humor depressivo súbitas ou contínuas, de
intensidade variável durante anos. Esta alteração do humor
geralmente está ligada a acontecimentos desagradáveis da
vida e podendo ser agravada por eles (16).
Mania e hipomania: na mania o indivíduo apresenta
irritação, elevação ou expansão do humor, podendo ocorrer
ainda características psicóticas tais como: paranóia, ilusões
e alucinações. O indivíduo apresenta humor eufórico, autoestima
inflada, grandiosidade, maior sociabilidade e energia.
Sintomas similares acontecem num episódio hipomaníaco,
sendo estes menos severos (28).
Distúrbio bipolar (maníaco-depressivo): a característica
básica deste distúrbio é o aparecimento de episódios
maníacos juntamente com episódios depressivos (28).
Ciclotimia: caracteriza-se por instabilidade persistente
do humor (mais de dois anos), com períodos depressivos
mais leves e períodos de hipomania. Não chegam a ter
gravidade na duração dos transtornos bipolares (16).
É provável que os distúrbios afetivos envolvam distintos
sistemas neuronais. Atualmente, têm surgido hipóteses que
procuram englobar as possíveis alterações fisiopatológicas
desses distúrbios dentro do contexto neurobiológico, sendo
elas: hipótese noradrenérgica, hipótese serotonérgica,
hipótese dopaminérgica, alterações no apetite, alterações
no sono, alteração nos ritmos biológicos, aspectos
imunológicos, alterações endócrinas (principalmente
envolvendo o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal) e as
alterações de receptores do tipo GABA-B (25).
Em geral, a dose de medicação necessária para o
tratamento dos distúrbios psiquiátricos do idoso é 30% a
50% daquela utilizada em adultos jovens. Entre eles
podemos destacar: Antidepressivos Tricíclicos (ATCs),
Antidepressivos de Segunda Geração, Inibidores da
Monoamina Oxidase (IMAO), Hormônio Tireoidiano,
Eletroconvulsoterapia (ECT), Lítio (7, 13, 25).
Além disso, um outro distúrbio psicológico que preocupa
os profissionais ligados a área da saúde é o quadro de ansiedade
que se caracteriza por estado emocional transitório que envolve
conflitos psicológicos e sentimentos desagradáveis de tensão,
angústia e sofrimento. Entre os sintomas mais freqüentes
estão: taquicardia, distúrbios de sono, sudorese, vertigens,
distúrbios gastrintestinais e náuseas (27).
Os distúrbios de ansiedade comuns nas doenças
psiquiátricas acabam deflagrando um quadro de angústia e
considerável prejuízo funcional, que pode ser apresentado
basicamente em quatro grandes categorias: pânico e
distúrbios de ansiedade, distúrbios fóbicos (agorafobia,
fobia social e específica), distúrbios obsessivo-compulsivo
e distúrbios de estresse pós-traumático. Inúmeras pesquisas
demonstram que distúrbios psiquiátricos podem estar
associados aos distúrbios do sono. Assim, grande parte
dos indivíduos que apresentam distúrbios psiquiátricos,
possui queixas relacionadas a esses distúrbios e com
mudanças no padrão do sono (1, 21). A maioria dos pacientes
com depressão apresentam algum tipo de insônia, sendo
que 40% destes apresenta dificuldade para iniciar o sono,
múltiplos despertares e insônia terminal (26, 34).
Concomitantemente, 35-50% dos indivíduos com queixas
do sono (insônia ou hipersonia) apresentam critérios para
distúrbio do humor ou de ansiedade (21, 40).
Foi observado também que indivíduos que apresentam
ansiedade generalizada (GAD) apresentam insônia,
principalmente de início de noite, proeminente das
“ruminações ansiosas” ao deitar-se (11, 21), em relação aos
pacientes com distúrbio do pânico.
Sabe-se, que 70%desses podem exibir episódios de pânico durante o sono
ocasionalmente e 33% terão estes ataques durante o sono
de maneira recorrente. Já os pacientes que possuem distúrbio
de estresse pós-traumático, apresentam pesadelos
traumáticos, repetitivos e estereotipados relacionados a um
evento traumático da sua vida (11).
Entretanto, é sabido que o exercício físico pode ser
usado no sentido de retardar e, até mesmo, atenuar o
processo de declínio das funções orgânicas que são
observadas com o envelhecimento, pois promove melhoras
na capacidade respiratória, na reserva cardíaca, no tempo
de reação, na força muscular, na memória recente, na
cognição e nas habilidades sociais. Vale salientar que os
exercícios físicos devem ser executados de forma preventiva,
ou seja, antes de a doença apresentar suas manifestações
clínicas. As intervenções reabilitadoras devem ser
programadas de modo a atender às necessidades de cada
indivíduo e, dessa forma, a atividade física deve ser mantida
regularmente durante toda a vida para que o indivíduo possa
gozar de melhorias na qualidade de vida e aumento na
longevidade (14, 23, 30, 32).
Além disso, o exercício físico leva o indivíduo a uma
maior participação social, resultando em um bom nível de
bem-estar biopsicofísico, fatores esses que contribuem para
a melhoria de sua qualidade de vida (9, 14).
Durante a realização de exercício físico, ocorre liberação da bendorfina
e da dopamina pelo organismo, propiciando um efeito
tranqüilizante e analgésico no praticante regular, que
freqüentemente se beneficia de um efeito relaxante pós-esforço e,
em geral, consegue manter-se um estado de equilíbrio psicossocial
mais estável frente às ameaças do meio externo (30).
No entanto, vale destacar a importância do discernimento
entre o conceito de Atividade Física que é uma expressão
genérica que pode ser definida como qualquer movimento
corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta
em gasto energético maior do que os níveis de repouso, e do
Exercício Físico (um dos seus principais componentes), que
é uma atividade física planejada, estruturada e repetitiva que
tem como objetivo final ou intermediário aumentar ou manter
a saúde/aptidão física, pois durante o desenvolvimento deste
estudo os termos atividade física e exercício físico serão
abordados como dois aspectos distintos (17).
(Continua)

Resumo
CHEIK, N.C.; REIS, I. T.; HEREDIA, R. A. G.; VENTURA, M.
L.; TUFIK, S.; ANTUNES, H. K. M.; MELLO, M. T. Efeitos do
exercício físico e da atividade física na depressão e ansiedade
em indivíduos idosos. R. bras. Ci. e Mov. 2003; 11(3): 45-52.

Nadia Carla Cheik1
Ismair Teodoro Reis2
Rímmel Amador Guzman Heredia3
Maria de Lourdes Ventura4
Sérgio Tufik5
Hanna Karen M. Antunes6
Marco Túlio de Mello7

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